Tocar violão é fácil?

Esta questão me foi colocada muitas vezes e minha resposta sempre foi afirmativa. Tocar um instrumento musical é uma habilidade que requer coordenação motora cuja natureza e complexidade variam de acordo com o instrumento e com o grau de perfeição técnica que se pretende atingir. Depois que se aprende, torna-se fácil.

Dirigir automóvel é fácil? Esta outra pergunta é feita por quem nunca dirigiu e gostaria de aprender. Depois que aprendeu, nunca mais se lembra dela. Você se recorda da primeira vez que pegou no volante de um carro para aprender a dirigir? Lembra-se de ter sentido dificuldade em coordenar as ações dos braços e pernas na hora de trocar as marchas? E, quando conseguia, não acontecia de às vezes se esquecer da direção? Está lembrado do que aconteceu depois? Em poucos dias, você foi se habituando a coordenar os movimentos dos membros, dos olhos e da cabeça de modo a automatizar as ações próprias do ato de dirigir. Hoje, você não precisa mais pensar conscientemente em cada um dos movimentos que deve realizar para dirigir bem num trânsito intenso, porque suas ações foram automatizadas. Basta estar atento. E sóbrio.
Voltando mais um pouco no tempo, recorda-se de como aprendeu a andar de bicicleta? Pois é, andar de bicicleta é um pouco diferente de dirigir automóvel. Você precisou aprender a se equilibrar em duas rodas coordenando três fatores: a velocidade, que se relaciona com a força que você imprime alternadamente aos pedais; a direção, que você determina com as mãos no guidom; e o equilíbrio, que envolve os dois anteriores mais o peso do corpo que você distribui a fim de harmonizar todo o conjunto. Provavelmente você terá levado mais tempo para aprender a andar de bicicleta do que a dirigir um carro.
Poderíamos voltar ainda mais, quem sabe ao nosso primeiro ano de vida, quando aprendemos a andar. Ou então falar de outras habilidades como nadar, esquiar, voar de parapente ou dançar. Todas têm um traço comum: a automatização. De tanto você repetir um mesmo conjunto de ações, você o torna automático, de modo que não precisa mais pensar conscientemente nele para o executar. Isto é válido também para o aprendizado de instrumentos musicais.
Voltando a eles, cada qual tem suas características próprias e seu grau de complexidade que não cabe agora aprofundar. Vamos aqui falar um pouco do violão, o tema principal.
Cinco são os pré-requisitos para uma pessoa normal aprender a tocar qualquer instrumento musical: vontade, tempo, paciência, perseverança e acesso ao instrumento que quer aprender. Quem preencher esses requisitos tem chance de aprender o instrumento com alguma facilidade. Se faltar qualquer um, vai ser difícil, senão impossível.

Vontade - É o básico. Se você curte violão, identifica-se com ele, gosta de sua sonoridade, de seu timbre, aprecia ver e ouvir alguém tocando esse instrumento e isso provoca em você um grande desejo de aprender a tocá-lo também, tudo isso pode estar indicando que você tem vontade suficiente para aprendê-lo.

Tempo - É preciso destinar um tempo ao estudo do violão. Quanto tempo? No mínimo duas horas-aula por semana. Menos que isso, é complicado. Você não veria progresso e acabaria se desmotivando. O ideal seria entre três e cinco horas-aula por semana.

Paciência - Se o estudo de música é algo novo em sua vida, procure primeiro conhecer alguma coisa sobre a teoria dos sons. Isto vai ajudá-lo a conhecer melhor seu instrumento. Leia sobre o violão. Procure estudá-lo em profundidade. Se puder tomar aulas com um professor, tanto melhor.
Neste ponto você precisa tomar uma decisão: é interessante você ter uma idéia sobre que gênero gostaria de estudar, violão popular ou clássico. Se sua intenção é cantar e usar o violão como acompanhamento, você pode optar pelo violão popular. Por outro lado, se seu objetivo é ser um instrumentista do violão, fazendo dele um instrumento solo, opte pelo estudo do violão clássico.
Ao escolher seu professor, procure saber se ele tem um método bem definido e conheça previamente o material didático que ele vai utilizar. Procure descobrir com outros alunos se ele está apto a transmitir o conhecimento que você espera.
Se você optar pelo violão popular e não puder tomar aulas com um professor, será interessante se você puder contar com a orientação de um amigo que conheça o instrumento, que poderá lhe dar dicas sobre o violão e indicar um método para você seguir.
Quando finalmente você entrar em contato físico com o violão para iniciar o aprendizado na prática, tenha paciência. Muuuita paciência. Lembra-se de quando você aprendeu a dirigir, a andar de bicicleta? É improvável que você sofra um acidente ou uma queda tocando violão, mas não deixe que um obstáculo qualquer no início faça você perder a paciência e a motivação.
No começo, algumas falhas são comuns: você pode não conseguir posicionar corretamente os dedos da mão esquerda sobre as cordas nos respectivos trastes e, por isto, o som não sai, ou sai abafado. Ou então, você pode não conseguir fazer um dedilhado limpo e uniforme com os dedos da mão direita. Uma outra queixa comum de principiantes é a dificuldade na passagem, no tempo certo, de uma posição para a seguinte, na mão esquerda. Some-se a isto o desconforto provocado pelo atrito das cordas com a polpa dos dedos da mão esquerda e um cansaço natural nos dedos, pulsos e braços. Tudo isso é muito comum e se supera com paciência. Insista, persista e vá em frente.

Perseverança - Uma vez que você tenha se proposto a aprender violão, não abra mão do tempo que você destinou ao seu estudo. A cada nova aula, novos obstáculos serão vencidos e novos conhecimentos sobre o violão serão acrescentados. Se você tomar aulas com professor no regime de duas horas-aula por semana, por exemplo, reserve outras duas horas semanais, em dias intercalados, para praticar em casa. Lembre-se do conselho de Johann Sebastian Bach (séc. XVI) no final de sua carreira: “Tenho trabalhado duro durante muitos e muitos anos. Quem se dispuser a trabalhar como eu tenho trabalhado, fará tudo o que eu fiz, e ainda mais!”

Violão - Se você ainda não tem, arranje um. É bom que seja seu, para que você possa dispor dele quando bem entender. Se for comprar, escolha um que use cordas de náilon, com tensor. É bom que não minta nem trasteje e seja leve e confortável para tocar.
Diz-se que um violão mente quando, apesar de afinado com as cordas soltas, há diferença na afinação quando são tocadas as cordas com os trastes da região central pressionados. Trastejamento é o som indesejável provocado pela vibração de uma ou mais cordas em contato com os trastes.
Se puder levar aquele seu amigo para ajudá-lo na escolha, faça isso. Ou então obtenha da loja autorização para que o violão que você pretende comprar seja previamente examinado por um luthier, profissional técnico em instrumentos de corda com caixa acústica. Por sinal, acabei de falar com um há pouco. Ele me garantiu que é possível comprar hoje um violão acústico novo, de boa qualidade, “na caixa”, por 300 reais.
Não estou sugerindo que você desligue esta máquina agora e saia daqui correndo para comprar um violão na primeira loja que encontrar. Há muitos violões encostados pelos cantos das casas que foram comprados por quem pensava que queria aprender e acabou desistindo. Agora, se você preenche os cinco quesitos antes mencionados, quem sabe é chegada a hora de você tomar uma decisão importante. Porque nunca se é tão jovem nem tão velho para aprender o que quer que seja. Ainda mais quando se trata de música, talvez a arte que toca mais de perto o espírito humano.
Se você já toca violão, quem sabe queira se aperfeiçoar, o que sempre é possível. Ou pode ser que seu violão esteja encostado naquele canto só esperando que você lhe estenda os braços. Retome-o, tire-lhe o pó, afine-o e faça com ele uma música nova.
E se a história sua com seu violão for parecida com a minha, indique a leitura deste artigo àquela outra pessoa que um dia manifestou a você o desejo de aprender violão. Pode ser que o dia dela esteja próximo. Clique com o botão direito do mouse e escolha a opção Envie esta página para um amigo.

Eduardo Nascimento

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